sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Córtex frontal

The Frontal Cortex é o quartel general do jovem escritor e neurocientista americano Jonah Lehrer. É a partir desse blog e de artigos em revistas especializadas que ele desnuda os intrincados mecanismos da percepção humana, da nossa memória e da própria formação e organização do conhecimento. Lehrer não se esquiva de opinar no minado campo da experiência com vinhos, no qual as discussões sobre objetividade e subjetividade são apaixonantes e passionais. As idéias de Lehrer causam certo calafrio entre aqueles que tratam a degustação como um dogma, com a bênção da Ciência e de papilas mais ou menos treinadas. Mas não se trata de negar o quanto as indicações de conhecedores são importantes na educação dos sentidos, dentro de um enredo cognitivo. Plínio, o Velho, na sua Historia Naturalis, já apresentava um ranking de vinhos, "para ajudar nosso senso de discriminação", aponta Gloria Origgi, em Questions of Taste (Signal, Oxford, 2007). Lehrer afirma que a degustação não pode ser tratada como mera soma de "inputs". "Quando degustamos um vinho, não estamos simplesmente degustando um vinho, isso porque o que nós experimentamos não é o que sentimos". Segundo ele, na hora da degustação, os sentidos são interpretados por um cérebro subjetivo, que traz para aquele momento a "biblioteca da memória" inteira. Graduado pela Universidade de Columbia, editor da revista científica Seed e colaborador da Nature, Lehrer levava para o laboratório do Nobel Eric Kandel, onde era um técnico, o livro Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust. O que era um recurso para matar o tempo, acabou fascinando o estudante. É que, com a lembrança da sua prosaica madeleine, Proust antecipou idéias sobre a memória que só agora a ciência vem redescobrindo. É sobre artistas "antenas da raça" seus ensaios reunidos em Proust was a Neuroscientist (Houghton Mifflin Books, NY, 2007).

http://scienceblogs.com/cortex/2007/11/the_subjectivity_of_wine.php/

DC 14/12/2007

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Engenharia de busca

Um site de serviço, gratuito, capaz de localizar virtualmente e listar vinhos com os preços mais competitivos do mercado americano, acaba de ser lançado na internet, tendo como base física San Francisco, nos Estados Unidos. Vinquire (uma brincadeira com vinho e um verbo de inquirição e investigação, inquire) é uma ferramenta hi-tech afiada que tem tudo para servir de modelo e inspirar outros mercados produtores e consumidores de vinho. O Vinquire nasceu da mente empreendedora de dois engenheiros, John Kleven e Andy Hund, cansados da limitação dos sites de busca, muitas vezes calcados (sem aviso) numa listagem comprometida com os patrocinadores. Para fugir disso, depois de dois anos de estudo, conseguiram organizar no Vinquire uma base de dados de grande amplitude. Os engenheiros desenvolveram um programa e deram a um robozinho a missão de zanzar pela rede em busca de vinhos e seus preços de venda. Hoje o Vinquire tem um inventário atualizado com mais de 50 mil rótulos, de mais de 3.300 vínicolas e revendedores norte-americanos. O usuário pode pesquisar com conhecimento de causa, procurando o vinho por sua indicação precisa, ou pode optar por caminhos menos definidos. Vai chegar lá também. O importante é que, "mesmo comparando o Vinquire com versões pagas de busca, nós freqüentemente batemos seus resultados", escreve Kleven, num blog que também faz a vez de relações públicas do projeto. Empenhados em fazer do site uma rede social, reservaram espaço para resenhas de usuários degustadores, ponto de partida de um ranking sem vícios.

http://www.vinquire.com/

http://www.joshspear.com/item/vinquire/

DC 7/12/2007

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

A machadinha de Carry Nation

Ainda há quem acuse a advogada Carry A. Nation (1846-1911) de estar por trás, como uma sombra, do fraco desempenho dos Estados Unidos no ranking de consumo per capita de vinho. É pesada a lembrança de seu ativismo xiita contra o álcool, isso antes mesmo da Lei Seca, que perdurou de 1919 a 1933 e vitimou muitos produtores. No banco dos réus também leis e impostos que restringem o livre fluxo de vinhos e uvas entre estados até hoje. Uma realidade anotada pelo escritor Jonathon Alsop, professor da Boston Wine School, com uma metáfora bem local: a cultura americana do vinho seria como aqueles jogadores de basquete muito altos, mas que ainda não perceberam essa vantagem. Com cerca de 300 milhões de habitantes, os EUA estão em 3° no rol dos oito maiores países consumidores (França, Itália, EUA, Alemanha, Espanha, China, Reino Unido e Argentina), que representam 2/3 da oferta mundial de vinho. No entanto, o consumo per capita é baixo, de 8,69 litros/ano, segundo dados do Wine Institute. Na campeã França, com uma população de 60,8 milhões de pessoas, o consumo está estacionado em 55 litros/ano. Há que se considerar que, de 2001 a 2005, o consumo per capita nos EUA cresceu 10%. É pouco, reclamam especialistas, sob a herança de Carry Nation. Bíblia e machadinha nas mãos, Carry militou no início do século 20 numa cruzada moralista contra o álcool, destruindo saloons e suas prateleiras de bebidas. Presa 30 vezes entre 1900 e 1910, fez disso propaganda da causa. Por ironia, hoje é personagem cult de museu de Kansas, cujos saloons vieram abaixo com golpes de machadinhas e marretas.

http://www.kshs.org/cool2/hammer.htm

http://www.wineinstitute.org/resources/statistics

DC 30/11/2007
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segunda-feira, 26 de novembro de 2007

A Colina de Magris

A Colina de Turim, com seus bosques, veredas, vilarejos, vilas barrocas e neoclássicas, organizados vinhedos (e nada isentos apreciadores de Freisa e Barbera), mereceu um texto apaixonado de Claudio Magris, um dos intelectuais italianos mais originais da atualidade. Em Microcosmos (Rocco/1997), o triestino ergue pequenos monumentos ao universal a partir de uma torrente de particularismos históricos, geográficos e culturais. A viagem literária pelo Norte da Itália, com destaque para a sua Trieste e o Piemonte de coração, rendeu um precioso relato sobre a Collina Torinese – "ondulada, variada", tendo a seus pés a Turim "geométrica, esquadrinhada" –, com ênfase nas "existências entrelaçadas". O personagem Dom Girotto (1857-1943), arciprestre de Revigliasco por 52 anos, é um pouco dessa síntese. "Filósofo-latinista-enólogo", seu tema predileto girava em torno da pequenez do ser humano e sua finitude, um entendimento compartilhado que tinha um quê libertário. Ainda hoje, no oratório que leva seu nome "troneiam várias garrafas dos épicos vinhos tintos do Piemonte", descreve Magris. O latinista-enólogo certamente sabia que "a superfície daquele latim (e sua magniloqüente irrealidade) assemelhava-se ao sabor do Barbera e do Dolcetto, vinhos tão ligeiros a escorregar no copo e na garganta, dignos dos cuidados e da competência que Girotto dedicava aos dons da videira, numa simbiose de teologia e enologia não rara por essas colinas (...)"

http://www.arpnet.it/pronto/progetti/collina/collina.html

http://www.italialibri.net/autori/magrisc.html

DC 23/11/2007

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Reencontro com os verdes

Carlos, maître do restaurante Arábia, um dos étnicos mais estrelados do Brasil, estava emocionado na quinta-feira da semana passada, numa degustação de vinhos verdes, comandada pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes de Portugal (CVRVV), em São Paulo. "Foi um reencontro sentimental com os vinhos verdes", resumiu, depois de provar o refrescante e mineral Casa de Santa Eulália 2006, das uvas Azal e Arinto, produzido na região de Cabeceiras de Basto. Carlos trabalhou vários anos no Rio, quando o vinho verde reinava sozinho na cena enogastronômica local, também como marca de uma identidade que a colônia de portugueses, principalmente os da região do Minho, fazia questão de preservar. O maître Carlos estava ali, numa viagem no tempo, quando Carlos Cabral, consultor de vinhos do Grupo Pão de Açúcar, apontou uma das razões do ostracismo do vinho verde, a partir dos anos 70. Cabral, que acaba de lançar Presença do Vinho no Brasil - um pouco de história (Editora de Cultura) e acompanha de perto a trajetória do vinho no País, explicou que o ministro Delfim Netto equiparou os impostos de importação dos vinhos verdes, menos alcoólicos, com os de gradações mais altas e isso encareceu o produto. A taxação coincidiu com a entrada de vinhos alemães de baixa qualidade. E hoje há a grande força de marketing dos Lambruscos. Por isso, a palavra de ordem é resgatar os verdes, agora modernos, com acidez mais equilibrada. A António Cordeiro, enólogo da CVRVV, cabe a missão de divulgar os vários estilos de vinho verde hoje produzidos em Portugal, com destaque para os varietais das cepas Loureiro e Alvarinho.

http://www.vinhoverde.pt/

http://www.casasantaeulalia.com/

DC 16/11/2007

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

A democracia dos blogs

O crescimento do número de blogs sobre vinhos é uma novidade que a indústria do setor começa a considerar. Somente nos EUA, são mais de 400. E isso porque tanto marinheiros de primeira viagem quanto degustadores já experimentados têm por eles circulado à procura de informações frescas, sem vícios. A agilidade e a informalidade dos blogs são armas imbatíveis se comparadas aos processos editoriais complicados de grandes revistas e pomposos livros. Um vinho recém-lançado às margens do Douro pode ter sua avaliação conhecida por um consumidor inglês instalado na City londrina, poucos minutos após a degustação. Num clique! Muitos articulistas de revistas e jornais tiveram de montar suas "filiais" na internet. Saul Galvão, experiente e bem-humorado crítico de vinhos, dá suas dicas enogastronômicas em 'O Negócio é passar bem', no Estadao.com.br. O colunista de vinhos do NYT abriu seu The Pour. O maior incentivador dessa prática é o blogueiro Tom Wark, que desde 2004 mantém seu Fermentation na rede. Essa paixão o levou a instituir o American Wine Blog Awards, que põe em cena os melhores blogs escritos em inglês. A palavra de ordem é independência. Tom entrevistou vários blogueiros na seção Bloggerview, onde profissionais e amadores expõem seus pontos de vista, com certa rebeldia. Vale passear pelos blogs vencedores do concurso, a começar pelo Dr. Vino, primeiro na categoria "best writing", pela prosa ao mesmo tempo precisa e provocativa. Essencial ainda o Wine Library TV, melhor videoblog, com impagáveis episódios de degustação.

http://tv.winelibrary.com/

http://www.vinfolio.com/thewinecollector

http://drvino.com/

http://fermentation.typepad.com/fermentation/2007/02/american_wine_b_4.html

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

De koalas e baleias

Duas respeitáveis vinícolas do Novo Mundo estampam em alguns de seus rótulos as imagens de animais que ajudam a preservar. O koala no centro de uma placa de trânsito amarela é marca registrada da série de vinhos Bear Crossing da Angove's, tradicional vinícola no Sul da Austrália, fundada pelo médico inglês William Angove no final do século XIX e ainda hoje tocada pela família.
Cada garrafa com o koala vendida em todo mundo – a empresa já exporta para mais de 30 países, inclusive o Brasil –, rende uma porcentagem para a Australia Koala Foundation, entidade que ajuda nas ações para a preservação da espécie. Um dos vinhos com o selo koala é produzido com a cepa Petit Verdot (permitida no blend de Bordeaux), que encontrou clima e solo apropriados nas terras quentes do continente.
Já o Southern Right sul-africano, da propriedade de Anthony Hamilton-Russel, traz no rótulo a imagem da baleia que batizou o vinho, declarada em extinção desde 1986. Trata-se de um vinho da cepa-emblema do país, a Pinotage (resultado do cruzamento da Pinot Noir com Cinsaut ), cultivada nas colinas da cidade de Hermanus. A partir dos vinhedos Southern Right se avista a Walker Bay, baía que na primavera recebe em suas águas quentes famílias e famílias de baleias. As vendas do Southern Right ajudam nas campanhas em defesa da baleia.


http://www.angoves.com.au/

http://www.southernwines.com/vineyard.cfm?preview>523

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Filosofia na roda n° 100

A abordagem mais criativa sobre as relações culturais que dão vida à boa mesa e à arte de beber tem a assinatura do filósofo francês Michel Onfray, várias vezes citado nesta coluna, que hoje chega ao número 100. Seus ensaios compõem um pensamento hedonista original e contemporâneo, teoria que inspira algumas pílulas epicuristas desta seção. Em A Razão Gulosa – Filosofia do Gosto (Rocco,1999), Onfray faz um up grade do paladar, sentido até então menosprezado pelos acadêmicos, sem deixar de reconhecer a "grandeza filosófica" de Brillat-Savarin, expressa no clássico Fisiologia do Gosto (Companhia das Letras,1999), obra pioneira, de 1825. O filósofo defende a "prática do vinho" que pode levar à embriaguez que ilumina, que garante a "libertação do espírito". E critica com rigor as bebedeiras que fazem do ébrio um vassalo e não "um sujeito que deseja". Mais de uma década depois de Onfray, eis que outros filósofos entram em cena com dois livros para mostrar os nexos entre vinho e filosofia. O professor PhD Fritz Allholf, da Western Michigan University, apreciador dos bons vinhos californianos, acaba de reunir ensaios de estudiosos e especialistas em Wine & Philosophy - A Meritage of Vintage Ideas. Já Questions of Taste: The Philosophy of Wine é organizado pelo britânico Barry C. Smith, da Escola de Filosofia (Birkbeck) da Universidade de Londres. Os blogueiros de plantão avaliam que as obras são mais um estímulo para o mergulho no mundo do vinho, mas alertam que os livros não substituem o ritual que envolve a degustação de uma garrafa eleita. Não precisavam nem avisar.

9781405154314&site>1">http://www.blackwellpublishing.com/book.asp?ref>9781405154314&site>1

http://fermentation.typepad.com/fermentation/2007/10/didactic-marxis.html

DC 26/10/2007

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Luz, câmera, Gruissan

O próximo Oenovideo – festival internacional de filmes documentários sobre uvas e vinhos, já na 15ª edição – será realizado nos dias 30 e 31 de maio e 1º de junho de 2008 na mediterrânica Gruissan, no Languedoc/Roussilion, a região de vinhedos mais vasta e antiga do mundo, cara a gregos e romanos. A cidadezinha bem perto de Narbonne tem atrativos próprios, como o seu desenho circular algo medieval, além de bela paisagem litorânea e sol abrasador. Itinerante, o Oenovideo deste ano teve como sede a localidade de Sierre, vila de excelentes crus. "As terras cobertas de vinhas são acolhedoras para o homem", resume Raymond Vouillamoz, um dos jurados do certame. Gruissan ostenta também um curriculum vitivinícola de personalidade: na montanha rochosa chamada Clape, que em tempos pré-históricos foi uma ilha, estão os vinhedos de onde saem tradicionais vinhos doces, os brancos especialíssimos da velha uva Bourboulenc (a Asprokondoura dos gregos) e os tintos de cepas como Grenache, Syrah, Mourvèdre, Cinsault e Carignan. Não é preciso então montar cenário para um festival cujo objetivo é exibir as melhores imagens da lida do homem em vinhedos de todo mundo: de closes no agricultor examinando folhas misturadas a gavinhas de seus parreirais a foco na textura dos cachos prontos para serem colhidos. Sobram lentes para as panorâmicas tomadas de fileiras e mais fileiras de planejados vinhedos. A "estética vinícola" poderá ser degustada ainda na exposição "Terroirs d’Images Photo Exhibit 2008" (as fotografias de 2007 podem ser vistas no site), que desta vez terá como tema animais e flores que dão vida aos vinhedos.

http://www.oenovideo.oeno.tm.fr/index.en.html

http://www.gruissan-mediterranee.com/accueil_fr.html

DC 19/10/2007

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

A lida na Nova Zelândia

Os vitivinicultores neozelandeses estão orgulhosos com a sua Pinot Noir, que tem lhes garantido vinhos apreciados em todo mundo. É a segunda varietal mais exportada entre junho de 2006 e junho de 2007 – cerca de 6 milhões de litros. A comemoração atinge também produtores de Pinot Gris, Merlot, Sauvignon Blanc e Chardonnay. O crescimento de 36% no total de vinhos exportados no mesmo período elevou a receita em US$ 700 milhões. Estão colhendo os resultados de duas décadas de desenvolvimento sustentado, como mostra o mais recente documento do New Zealand Wine. O programa Sustainable Winegrowing New Zealand já existe há cerca de 10 anos e hoje serve como arma de marketing, num mundo cada vez mais preocupado com questões ambientais. Cerca de 60% dos vinhedos e 70% dos vinhos já são manejados e processados dentro de conceitos ecológicos. Saborosos detalhes sobre a realidade da vitivinicultura da Nova Zelândia podem ser encontrados em First Big Crush: The Down and Dirty on Making Great Wine... Down Under (Scribner, 2007), livro do jornalista Eric Arnold (The Wine Spectator), que acaba de ser lançado. O site Fermantation, do sempre bem informado Tom Wark, resenhou o novo livro como uma crônica, no melhor estilo "On The Road". Arnold relata as durezas e alegrias de um ano vivido na lida da Allan Scott Wines, propriedade no centro da região vinícola de Blenheim, Marlborough. E coloca a produção de vinhos no seu devido lugar, distante de holofotes e da costumeira glamourização.

http://www.nzwine.com/wineries/

http://www.allanscott.com/

DC 11/10/2007

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Herdades de Évora

É notável que uma fundação cultural alcance seus objetivos de educação e promoção social a partir de bons vinhos e azeites. Essa a receita da Fundação Eugénio de Almeida, com sede em Évora, Portugal, desde a sua criação, em 1963. O agrônomo Vasco Maria Eugénio de Almeida, conde de Vilalva, dono de grande fortuna, instituiu a Fundação em bases humanistas, preocupado com a gente de sua terra. Para investir em educação, no mecenato às artes, na dedicada restauração do patrimônio histórico e arquitetônico, tinha como trunfo um negócio agropecuário rentável, baseado antes de tudo na tradição vitivinícola local. As videiras, de castas tipicamente alentejanas (Tinta Caiada, Aragonês e Trincadeira, para os tintos; Roupeiro, Antão Vaz e Arinto, para os brancos), são cultivadas hoje em 300 hectares, nas herdades de Pinheiros, Casito, Álamo da Horta e Quinta de Valbom. As uvas são processadas na Adega da Cartuxa, que funciona no mesmo local onde, no século XVI, a Companhia de Jesus mantinha uma casa de repouso. Perto dali está o convento da Ordem Cartusiana, projeto abençoado pelo papa Gregório XIII, que sobreviveu à Guerra da Restauração, incêndios e à expulsão de seus moradores pelo marquês de Pombal. Em 1869, o imóvel foi comprado pelo bisavô de Vasco Eugénio de Almeida. Quase cem anos depois, o empreendedor deu nova vida ao convento. Uma reforma completa trouxe de volta até frades cartuxos. É nas caves desse convento que se dá o "acabamento final" a garrafas de vinhos DOC como Pêra-Manca, Cartuxa, Foral de Évora, Cerca Nova e EA. Os vinhedos de Pêra-Manca datam dos séculos XV e XVI. A marca passou da Casa Soares para a Fundação em 1987. E nunca mais deixou de ser sucesso.

http://www.fea-evora.com.pt/

http://www.cartuxa.pt/

DC 5/10/2007

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Merlove, o desagravo

O documentarista californiano Rudy McClain acaba de anunciar que vai rodar um filme sobre a uva Merlot. Merlove, como a produção foi batizada, vai reunir depoimentos de vitivinicultores, principalmente aqueles que fazem da Merlot seu carro-chefe. Além dos produtores da Califórnia, McClain pretende entrevistar, a partir de novembro, vinicultores de Bordeaux e de outras regiões onde a uva é cultivada. A imagem da varietal saiu desgastada após o sucesso do filme Sideways (2004), de Paul Giamatti. Na cena mais ferina, o protagonista Miles avisa seu amigo de viagem Jack, antes de um duplo encontro romântico, que deixaria a mesa na mesma hora se alguém pedisse Merlot. (I’m not drinking any fucking Merlot!). Merlove será, portanto, um desagravo, mas não um contra-ataque. Ou seja, a Pinot Noir que o personagem Miles colocou nas alturas não será "desrespeitada". Engraçada é a polêmica travada até hoje (e o DVD está aí para alimentá-la) entre produtores reais e os personagens de Sideways. "Se Miles detesta tanto a Merlot, como pode render homenagem ao Château Cheval Blanc, no qual a Merlot está presente?" Merlove vai mostrar os respeitáveis vinhedos de Merlot da Califórnia e contar a saga dessa cepa que, a partir dos anos 90, deixou de ser "parte subserviente" do blend do Cabernet Sauvignon, para brilhar como vinho tinto mais popular dos EUA, o rei das taças, ao lado do Chardonnay. Em 2000, foi o vinho mais vendido, segundo o Wine Institute. A grande demanda multiplicou os vinhedos e a crítica passou a notar grande queda de qualidade. Merlove vai mostrar que há vinhos Merlot tão finos quanto os feitos com a Pinot Noir.

http://www.merlove.com/

http://www.foxsearchlight.com/sideways/

DC 28/9/2007

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Adega civilizadora

Em tempos de adegas esnobes para exibição, cai bem a lição da adega compartilhada do historiador Yan de Almeida Prado (1898-1987). A adega "civilizadora" de Yan foi homenageada em Memórias da Pensão Humaitá (Companhia Editora Nacional, 1992), do jornalista João de Scantimburgo, diretor deste Diário do Comércio, e nos vários livros do connaisseur Dr. Sérgio de Paula Santos, titular da 'Adega' desta página. Scantimburgo e Paula Santos falam de cátedra, pois conviveram com a boa mesa, inteligência e cultura de Yan. Durante décadas a residência do historiador (primeiro na avenida Brigadeiro Luís Antônio com rua Humaitá, depois na Guaianases) foi um salão freqüentado por intelectuais, escritores, políticos. De Villa Lobos a Monteiro Lobato. De Ungaretti a Ciccillo Matarazzo e Prestes Maia – todos convidados da Pensão Humaitá, como Marcelino de Carvalho, o cronista das boas maneiras, em tom de blague, batizou a casa de Yan. Assis Chateaubriand, dos Diários e Emissoras Associados, fundador do Masp, tinha assento nas cenas enogastronômicas. Certo dia, chegou eufórico à Pensão onde anunciou a Yan que acabara de comprar o quadro Conde-Duque de Olivares, de Velázquez. Contagiado com a notícia, ele também bibliófilo e amante das artes, Yan não pensou duas vezes para abrir um champagne. "Batizemo-lo agora mesmo, ainda que esteja ausente", teria dito a Chateaubriand. Scantimburgo (na foto com Yan) relembra vários episódios como este. A adega com grandes vinhos (Margaux, Latour, Yquem, Lafite Rothschild, Ausone, Beychevelle, Belair, Figeac), das melhores safras, era sempre aberta pelo anfitrião para celebrar a amizade. Paula Santos fala de 4 mil garrafas na sua época áurea. Yan morou vários anos na França e conheceu a arte dos bons vinhos europeus. Sua adega sempre foi compartilhada com os amigos. Paula Santos destaca a generosidade de Yan, capaz de abrir um Château de Yquem nas comemorações de seus 50 anos.


http://www.chateau-latour.com/index.html

http://www.chateau-cheval-blanc.com/htm/entree.htm

DC 21/9/2007

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

As pedras de Randall Grahm

Cabelo comprido amarrado em desleixado rabo de cavalo, sorriso sempre no rosto, Randall Grahm é dono da Bonny Doon Vineyards, nas Montanhas de Santa Cruz, Califórnia. É um rhône ranger, como foram batizados os americanos que cultivam à francesa as cepas clássicas do Vale do Rhône. Com visão humanista, cativa produtores e cientistas ao fazer sempre uma apaixonada defesa da biodinâmica como ferramenta para a compreensão de cada terroir. De maneira bem simplificada, vinhos de terroir expressam características de paladar influenciadas por solo e microclima existentes tão somente em determinado vinhedo. Não à toa, um ensaio por ele assinado, The Phenomenology of Terroir: a Meditation, está disponível no site da Appellation America, entidade ligada à indústria do vinho dos Estados Unidos que tem como missão contribuir para o que chama de "appellation-ization" do vinho do país. Ou seja, trabalha para mostrar que o conceito de terroir já integra a prática de muitos produtores de vinhos finos dos EUA. Nas palavras de Grahm (e é preciso deixar claro que falar em terroir é entrar num campo fértil de controvérsias), terroir é também a qualidade encontrada em certos vinhos especiais, que transcendem estética e estilo pessoais do produtor. "Uma impressão digital única", diz Grahm. Sabendo que ele é um fã dos toques minerais nos vinhos, temos somente de desculpá-lo por uma experiência maluca, realizada na sua vinícola. Para arrepio dos cientistas e produtores tradicionais, Grahm foi mais do que literal ao tentar dar mineralidade a seu vinho: moeu pedras do seu terreno e as acrescentou à bebida em fermentação. Conseguiu, sim, alguns resultados com a infusão ingênua, mas arrumou confusão com as autoridades sanitárias, já que esse vinho supermineralizado apresentou elevados níveis de níquel.

http://wine.appellationamerica.com/wine-review/136/Randall-Grahm-on-Terroir.html

http://www.rhonerangers.org/

DC 14/9/2007

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

'Cyrano' Depardieu

Gérard Depardieu não dá a mínima para os jornalistas que brincam com seu nariz avantajado, creditando ao bom faro do ator seus sucessos no mundo do vinho. Uma relação para lá de mnemônica. Na sua mais conhecida peça, o dramaturgo Edmond Rostand apresenta Cyrano de Bergerac, duelista e poeta ao mesmo tempo brilhante e atormentado, com um nariz descomunal a impedir-lhe declarar sua paixão por Roxane. Depardieu transformou-se em Cyrano no cinema (1990) e pouco foi preciso para a caracterização do narigudo. A bela interpretação de Cyrano, o livre-pensador e atirador contemporâneo de Molière, garantiu-lhe uma indicação para o Oscar e mais um dos cachês milionários. É com esse dinheiro que ele tem investido em propriedades vinícolas mundo afora: além da França, está na Espanha, em Portugal (Alto Douro), na Argentina e no Marrocos. Adquiriu o Château de Tigné, em Anjou, no Vale do Loire, em 1989. De lá saem mais de 400 mil garrafas por ano, entre elas do Cuvée Cyrano, um assemblage de Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, em justa homenagem a Savinien de Cyrano de Bergerac (1619-1655), que lhe emprestou alma e nariz. O passaporte de Gérard Depardieu é revelador dessa sua paixão. No item ocupação, informou à polícia francesa com humor e certo orgulho: "ator e viticultor". Jornalistas dissem que ele mais parece um motorista de trator, daqueles que podem ser vistos entre vinhedos do Languedoc. E disso ele gosta. O charme gaulês já abriu-lhe portas até no seleto clube dos viticultores de Bordeaux.

http://news.bbc.co.uk/1/hi/business/4262234.stm

687832">http://pt.livra.com/review.asp?R>687832

DC 6/9/2007

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Muito além dos 'Zins'

Arnold Schwarzenegger, governador da Califórnia e ator de Hollywood, conhecido "exterminador", tem se saído bem diante das pressões de viticultores que defendem esta ou aquela varietal como a mais emblemática do Estado (quando não dos Estados Unidos) e correm atrás de apoio oficial. Usando de diplomacia, Schwarzenegger declarou setembro de 2007 como o mês do vinho da Califórnia, com uma série de atividades para a promoção do enoturismo – distinção que se repete há três anos consecutivos e uma homenagem aos 4.600 agricultores e 2.400 vinícolas do Estado, de onde saem 90% de todo vinho produzido no país. O governador defende a diversidade de cepas que, segundo ele, faz o sucesso da indústria de vinhos local, "seja o Cabernet de Napa ou Sonoma, o delicado Pinot Noir da Costa Central, ou o Zinfandel do Vale San Joaquin ou das encostas de Sierra". O "exterminador" vetou um projeto de lei que decretava o Zinfandel como "o" vinho da Califórnia. Os defensores da idéia, encabeçados pelo prestigioso Wine Institute, apegam-se à história da cepa, "espinha dorsal" dessa indústria durante 100 anos, desde que foi plantada na Califórnia, nos anos 1850, tempos da Corrida do Ouro. E apelam para a importância desse vinho na mesa do imigrante italiano que ajudou a construir o Estado. Ainda hoje a uva Zinfandel ocupa a quarta posição no ranking das mais cultivadas, com cerca de 21 mil hectares. O apelo tem perdido força depois que exames de DNA revelaram que a Zinfandel é geneticamente idêntica à uva Primitivo, cultivada na Puglia, Itália. Pesquisa mais recente mostrou que a Zinfandel nasceu na Cróacia.

http://www.napavintners.com/

http://www.zinfandel.org/about_zin/zindev.htm

DC 31/8/2007

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Nova luz no 'casillero'

O Casillero del Diablo Reserva Privada 2005, que acaba de ser lançado no Brasil pela multinacional francesa Pernod Ricard, é um desses vinhos que certamente Don Melchior de Concha y Toro trataria de proteger com unhas e dentes na sua adega "assombrada". Diz a conhecida lenda que o fundador da vinícola chilena, cansado dos larápios que levavam preciosas garrafas de sua propriedade, espalhou que no escuro do seu úmido casillero vivia o diabo. E bastou a história noir para que nada mais fosse tirado de lá.
O novo vinho da Casillero del Diablo, vinícola do grupo Concha y Toro, é uma mescla de Cabernet Sauvignon (65%) e Syrah (35%), amadurecida durante 14 meses em barrica de carvalho francês. Trata-se de uma bem cuidada versão latino-americana do agora clássico blend australiano Shiraz-Cabernet Sauvignon (Shiraz como prefere a Austrália). A parte de Cabernet do Casillero é de Pirque, no Vale do Maipo, terroir de origem do Casillero de Diablo, onde Don Melchior e sua mulher plantaram em 1883 seus primeiros vinhedos, com variedades trazidas de Bordeaux. As uvas Syrah são de Peumo, das encostas do Vale do Rapel. O jovem enólogo Marcelo Papa, que comandou a degustação desse premium em São Paulo, usa uma imagem bonita para defender a mescla: "o Syrah entrega a fruta ao Cabernet, despertando-o". Papa diz que eles cuidaram também para que a madeira não fosse protagonista. Resultado de uma safra extraordinária, esta edição do Casillero Reserva terá apenas 500 mil garrafas.


http://www.casillerodeldiablo.com/

http://www.conchaytoro.com/

DC 24/8/2007

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Informes de espiões

Uma destemida dupla de espiões "infiltra-se" em vinhedos e adegas de todo planeta, de Bordeaux ao Vale do Napa (até nos vales gaúchos já foi) para escolher uma garrafa de qualidade e colocá-la em oferta na web. O objetivo dos agentes Red (Jason Seeber) e White (Brandon Stauber) é "defender" principalmente consumidores estreantes, perdidos nos intrincados meandros do mundo do vinho. Outra missão: decifrar os códigos de sua linguagem. É evidente que são agentes duplos, já que cooperam com as pequenas vinícolas, pinçando raridades e surpresas. Mas essa estratégia de marketing não é secreta. E eles são bons é nisso. Até parece história em quadrinhos o site thewinespies, criado por Seeber e Stauber, na rede desde 1° de agosto, a partir de Sonoma County, na Califórnia. Os internautas cadastrados recebem informes diários sobre as pechinchas, assinados pelos agentes em serviço. "Estamos provando vários vinhos brasileiros", antecipa Brandon. No dispatch de ontem, o agente Red descreve sua incursão, como um verdadeiro cowboy, por vinhedos do Vale do Carmel, Monterey, onde encontrou o 2003 Red Rose Hill (Galante Vineyards), 100% Cabernet Sauvignon, que oferece de US$ 30 por US$ 21. Centenas de pequenas vinícolas da Califórnia – de um total de 1.367, segundo o Wine Institute – garantem a saúde dos negócios com vendas pela internet, por meio de clubes do vinho e na boca das vinícolas. Aproveitam o sucesso do enoturismo, que atrai para a região 14,8 milhões de visitantes por ano.

http://thewinespies.com/

http://www.wineinstitute.org/

DC 17/8/2007

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Il Libretto das italianas

O casal proprietário da Villa de Montecastelli, um monastério beneditino do século XI inteiramente restaurado, perto de Siena, no centro da Toscana, tem se esmerado na defesa das mais de 2 mil castas regionais da Itália. Jens e Ruth Schmidt, ele alemão, ela norte-americana, são agora negociantes de vinhos, mas imigraram para a Itália atrás de um sonho: produzir um azeite de oliva orgânico. Hoje compram vinhos de pequenos produtores, ajudam na lida desses "heróis" e vendem garrafas de uma produção muito limitada, principalmente para os Estados Unidos. Jens e Ruth são, antes de tudo, amantes das cepas únicas. Acreditam que só elas são capazes de tirar da obviedade o mercado global do vinho, que ainda se apoia preguiçosamente nos cultivares clássicos. De certa maneira, o casal ajuda a mapear parte da terra incógnita, que é como a escritora Jancis Robinson chama o universo de milhares de cepas ainda a ser descoberto pelos apreciadores de vinho. Il Libretto é um projeto que o casal cuida com carinho. Está baseado na idéia de que a "diversidade é algo precioso, que deve ser protegido". Canaiolo, Montepulciano, Dolcetto, Barbera, Uva di Troia, Sagrantino, Ciliegiolo, Nero d'Avola, Nero Buono di Cori, Vermentino, Verdicchio, Ansonica, Ribolla, Gialla, Aglianico, Lagrein, Corvina, Casavecchia, Masseretta, Pallagrello Bianco, Pallagrello Nero e Piedirosso são as cepas que a empresa Montecastelli Selection adotou, apoiando pesquisa, manejo e comercialização. Il Libretto (veja o site) apresenta cada uma das cepas e oferece ao leitor história e geografia dessa viticultura familiar, muitas vezes "escondida" em pequenas propriedades, ao longo da belíssima paisagem da Itália.

http://www.montecastelli.com/tmplt.cfm/page/libretto_eng.htm

http://www.montecastelli.com/

DC 10/8/2007

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Citações em Ratatouille

Ratatouille, a divertida animação da Pixar/Disney, que traz o ratinho Remy em proezas como chef de cuisine hedonista, é recheada de citações: prato cheio para gourmands e gourmets. É memorável a cena na qual o crítico gastronômico, até então irascível, vai desmontando diante de uma simples ratatouille (preparada por um bando de ratos), tão saborosa quanto às da sua infância. Os legumes montados à la Carême ilustram bem o poder de fogo de um prato com cara e alma. Os enófilos certamente identificam a homenagem feita aos vinhos Château Latour e Château Cheval Blanc. Um ouvinte do Momento do Brinde, na CBN, pediu ao crítico Renato Machado uma avaliação sobre os vinhos de Ratatouille. E o jornalista os reverenciou como duas grandes criações da civilização. No filme, o Latour é usado em manobra para embebedar o aprendiz de cozinha e dele retirar confissões, mas o resultado foi levá-lo às nuvens. O Château Latour, produzido em Pauillac, no Médoc, é um dos mais renomados vinhos (Premier Cru) de Bordeaux, 75% Cabernet Sauvignon. O rapapé ao vinho francês provocou ciúmes e agitou o lobby dos viticultores californianos. A Disney bem pretendia imprimir o ratinho Remy em um Chardonnay 2004 da Borgonha, mas teve de desistir da idéia.

http://www.chateau-latour.com/indexh.htm

www.calendarlive.com/movies/cl-fi-ratwine28jul28,0,1700405.story

DC 3/8/2007

terça-feira, 31 de julho de 2007

Cálices da ciência

PhD em Biologia, criador do visitado site wineanorak.com, o escritor inglês Jamie Goode tem emprestado seus conhecimentos científicos para abordagens elucidadoras – e polêmicas – da arte vitivinícola. "A degustação tem muito mais a ver com o degustador do que com o vinho por ele provado", escreveu para uma das edições da revista The World of Fine Wine, pondo em xeque o real valor das notas, estrelas e cálices emitidos pelos críticos. Autor de livros sobre a aplicação da ciência na viticultura: Wine Science (Mitchell Beazley, 2005) e The Science of Wine: From Vine to Glass (University of California Press, 2006), Goode tem também como interlocutores especialistas em Neurociência, Psicologia e Filosofia. Pesquisadores reafirmam que ainda há muito a desvendar sobre como o cérebro constrói nossa experiência sensorial com o vinho. Além do aroma e do sabor, existem outras variáveis fundamentais como visão, tato e memória, que trabalham de maneira intrincada para uma percepção final e única da relação com um vinho específico. Goode resume: "É comum ouvir uma pessoa falando sobre um noventa-qualquer-coisa vinho de Parker [o crítico norte-americano], como se aquele vinho tivesse aquele score, de algum modo invariável. O que um 95 de Parker realmente significa é que, em certo dia, Robert Parker deu para o vinho de determinada garrafa uma cotação de 95 pontos. Para você, seu paladar, no ambiente em que provou o vinho, no seu contexto, as coisas podem ser diferentes."


http://www.finewinemag.com/docs/Wine%20&%20Brain%20by%20Goode.pdf

http://www.wineanorak.com/score.htm

DC 27/7/2007

Uma cratera para os bárbaros

Gregos e romanos quase nunca tomavam seu vinho puro, como faziam os cítios, nômades iranianos do tempo do grande persa Dário. A moda cítia do vinho sem mistura era considerada comportamento bárbaro, dentro daquele espírito apreendido pelo dramaturgo Aristófanes: o verdadeiro homem seria aquele que se alimenta e bebe em vastas quantidades. Antes de ir para o kylix, elegante taça grega com duas alças, a bebida era misturada à água numa cratera, grande vasilha de cerâmica, ricamente decorada, geralmente posicionada no centro do salão do symposium. O bardo Homero refere-se na sua épica Odisséia (canto IX), a verdadeiros "sommeliers" servindo vinho a convivas de um banquete, a partir de pesadas crateras. As proporções desse mix alimentaram polêmicas e foram parar nos escritos de filósofos, poetas e historiadores. Aristófanes fala de uma forte mistura: uma parte de água para uma de vinho. Uma criteriosa compilação de citações sobre o tema, traduzidas para o inglês, pode ser vista no blog Laudator Temporis Acti, mantido pelo bibliomaníaco de Minnesota, Michael Gilleland. Heródoto, um dos pais da historiografia moderna, reproduz uma informação colhida numa de suas viagens: a de que o rei espartano Cleômenes "perdeu o senso" e morreu miseravelmente por causa do vinho sem água. Gilleland registra um dos epigramas do endiabrado poeta Marcial, que critica gregos e romanos que bebem o vinho no seu estado natural. Seriam bêbados ou glutões. Platão, nas suas Leis, foi condescendente: "Cítios e trácios, homens e mulheres, bebem de vinho natural, assim como vestem seus trajes", glorificando uma "instituição".

http://laudatortemporisacti.blogspot.com/2004/10/wine-and-water.html

http://en.wikipedia.org/wiki/Krater

DC 20/7/2007

Ben Schott, no gargalo

Ben Schott é um jovem escritor inglês, fotógrafo, apreciador de bons vinhos e charutos, especializado em... almanaques e miscelâneas. Suas três últimas coletâneas, traduzidas para mais de doze línguas, já venderam cerca de 2 milhões de exemplares. A Miscelânea da Boa Mesa de Schott (Intrínseca, 2006), ao lado de hilariantes inutilidades, traz dados históricos sobre alimentação e comportamento à mesa. Além de curiosidades sobre vinhos, como a nomenclatura dos espaços livres dentro de uma garrafa: a bebida pode estar no gargalo ou, mais vazia, no "início do ombro". Outra relação mostra o tamanho e os nomes dos cascos, com uma biografia dos homenageados. Baltazar, um dos três reis magos, o da mirra, nomeia a garrafa de 16 litros de Bordeaux. Uma lista trata dos tonéis de madeira, do Demi-muid de 600 litros, para o Châteauneuf-du-Pape, aos Stück, com o dobro da capacidade, onde fermentam vinhos do Reno. Na edição brasileira, para ficarmos nas listas ao gosto dos almanaques, há a carta de vinhos do último baile da Ilha Fiscal, no Rio, oferecido por D. Pedro II para 5 mil pessoas, em 9 de novembro de 1889. Registros mostram que, ao apagar das luzes da monarquia, foram consumidas 12 mil garrafas de vinho e duzentas caixas de champanhe. Schott trata de outro jantar, realizado durante o cerco de Paris, em 1870. O zoológico do Jardin des Plantes, sem condições de manter os animais, vendeu camelos, cangurus e antílopes para a festa, servidos com Mouton Rotschild 1846 e Romanée Conti 1858.

http://www.benschott.com/en/almanac.html

http://www.miscellanies.info

DC 13/7/2007

Casa Mondavi, o livro

Acostumada a brilhar nas revistas especializadas (e na de celebridades), a família Mondavi, responsável por décadas de elegância na elaboração de grandes vinhos no Vale do Napa, merecidamente reconhecida como mecenas da cultura enogastronômica da Califórnia, tem agora sua trajetória analisada sob um olhar sem concessões. A jornalista Julia Flynn Siler, do The Wall Street Journal, acaba de lançar The House of Mondavi (Gotham, 2007), um livro que mostra os meandros dos negócios da família, desde a chegada do imigrante italiano, o patriarca Cesare Mondavi, aos Estados Unidos, em 1906. Fala das décadas de Robert Mondavi, que com talento e visão construiu um império de mais de um bilhão de dólares e foi peça-chave na revolução da vitivinicultura americana. E põe suas tintas na rivalidade entre os herdeiros Michael e Thimothy, expressa na luta pelo controle do negócio, até a venda da companhia para um conglomerado internacional, a Constellation Brands, em dezembro de 2004. Na pesquisa que baseou reportagens de capa do WSJ e, agora, o livro, Julia teve de vencer sérias resistências dos produtores californianos, temerosos em falar sobre os poderosos amigos Mondavi. Até que Robert e a mulher, Magrit, abriram dados das operações. Além de entrevistas, o livro é resultado de detalhada pesquisa documental. (E como ficou o legendário Opus One? O acordo então celebrado por Mondavi e os Rothschild de Bordeaux foi renovado pela Constellation em setembro de 2005.)


http://www.cbrands.com/CBI/constellationbrands/homepage/default.jsp

http://www.robertmondaviwinery.com/summerfest.asp

DC 6/7/2007

Romance epicurista

O chef galês Idwal Jones publicou High Bonnet em 1945, antecipando uma escrita que celebra o epicurismo das relações entre aqueles que procuram os prazeres da mesa e do vinho. Epicuro, filósofo ateniense do século IV a.C, e seus seguidores propunham uma vida de prazer para se alcançar a felicidade. O romance High Bonnet (The Modern Library, New York, 2001) integra a coleção Modern Library Food, dirigida por Ruth Reichel, editora-chefe da revista Gourmet. Foi saudado por seu pioneirismo pelo chef do Les Halles, Anthony Bourdain, que, como Idwal Jones, também abre bastidores de cozinhas estreladas e mostra o que vai por dentro das almas de suas controversas figuras. Jones escreve sobre a saga do jovem provençal Jean-Marie Gallois, de aprendiz de saucier a chef coroado. O rapaz tem sua grande chance depois de preparar um molho avassalador (e o segredo estava no chocolate amargo) para um assado de ganso, servido de maneira improvisada na casa de seu tio. O Sauce Sicilienne foi tão apreciado por um dos convivas, uma baronesa inglesa gourmande, que Jean-Marie acabou indicado para o Faisan d'Or. O restaurante, famoso por seu repertório de molhos, funcionava nas instalações visitadas certa feita por Richelieu, curioso para entender o ponto da mayonnaise. Jean-Marie, narrador da própria história, não fala de pratos sem os vinhos que compõem um jantar realmente harmonioso. De seu tio, mestre fabricante de perfumados nougats, recebeu uma das inesquecíveis lições sobre vinho e terroir :" O melhor vinho para um homem é aquele que cresce no seu próprio vinhedo ou na sua vizinhança, o sangue de seu chão nativo".

http://www.vinsdeprovence.net/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Epicurismo

DC 29/6/2007

Tônus de Xenófanes

O poeta-filósofo pré-socrático Xenófanes (c. 570-475 a. C.) fez de suas elegias um espaço de crítica à religião e às concepções morais de seu tempo, engajado nos então crescentes problemas da polis. Seus poemas são mais do que celebrações de feitos militares e políticos ou "vinho, mulher e canção", como analisou o professor John Porter, do Departamento de História da Universidade de Saskatchewan, Canadá. Num dos fragmentos sobreviventes, o vinho entra em cena em tom contemporâneo, que em nada fica a dever às formulações do filósofo francês Michael Onfray, para o qual há um estágio de embriaguez que ilumina o caminho da razão; Onfray é crítico da bebedeira "que faz do ébrio um vassalo". Para Xenófanes, a bebida deveria despertar a mente para o meritório, longe dos embates mitológicos e dos deuses antropomórficos de Homero e Hesíodo. É de Trajano Vieira, professor de Língua e Literatura gregas da Unicamp, a brilhante tradução e recriação deste trecho de Xenófanes (Xenofanias, Editora Unicamp/IO, 2006). Agora o solo se depura, as mãos todas, os cálices;/ alguém eleva à fronte a trança da coroa;/ um outro infunde bálsamo no púcaro;/ a cratera, plena, rejubila-se;/ ultimam um vinho diverso – sua falta é inadmissível! –,/ docimel, arômata floral nos jarros; / (...) Iniciar hinos ao deus é prerrogativa de homens felizes,/ com seus mitos de augúrio, linguagem de catarse./ Finda a libação e o clamor pelo justo proceder – eis o que a tudo precede! –,/ beber já não agride, quanto permita o torna-lar/ sem amparo no escravo, se a idade não pesa.../ Digno de nota é quem, pós-beberagem, revela temas de nobreza,/ o tônus da memória no que é meritório,/ não em episódios de refregas titânicas, gigânteas, centáureas, invencionices do passado,/ ou nas revoltas sangüinárias. Que vantagem nos trazem?/ Dádiva é manter a mente nas deidades.

http://en.wikipedia.org/wiki/Krater

http://homepage.usask.ca/~jrp638/CourseNotes/LyricPoets.html

DC 22/6/2007

De ânfora e Nabucodonosor

O desenho ao lado é de uma ânfora romana que circulou nas rotas do vinho a partir de 130 a. C.. Sua capacidade era para 48 sextarii, medida equivalente a 25,9 litros. Durante cerca de um século, serviu para certa organização no comércio do vinho, como anota o pesquisador Stuart J.Fleming, em Vinum, The Story of Roman Wine (Art Flair/USA). Era uma ânfora popular, como se fosse a nossa boa garrafa de 750 ml. A guarda do vinho nesses potes de terracota era comum na Mesopotâmia. Os egípcios os usavam de maneira organizada nas adegas dos faraós. Gregos e romanos transportavam as suas ânforas em rentáveis destinos comerciais, cheias de azeite de oliva e vinho. Com a invenção do vidro soprado, os romanos deram transparência ao vinho, mas a precariedade da manufatura em série das garrafas levava dúvidas aos consumidores. Para não pagar gato por lebre, os compradores levavam suas próprias medidas, que eram completadas. No século XVII, com o desenvolvimento das garrafas de vidro e o arrolhamento, o vinho passou a viajar e a ser guardado com mais segurança. Em 1979, sob pressão dos Estados Unidos, a garrafa padrão passou a ser a de 750 ml. Até mesmo viticultores da Borgonha e da Champagne, acostumados com a garrafa de 800 ml, e os de Beaujolais, que tinham a sua de 500 ml, partiram para certa padronização. As garrafas maiores existem há mais de três séculos, como a Jeroboam (3 litros), criada em Bordeaux. Muitas delas são usadas para ocasiões especiais, como a Nabucodonosor (15 litros). Já a Magnum (1,5 litros), mais popular, volta a freqüentar com destaque os catálogos das importadoras.


http://en.wikipedia.org/wiki/Wine_bottle_nomenclature

http://www.cellarnotes.net/wine_bottle_sizes.htm

DC 15/6/2007

A pérgula de San Michele

O vinho de Capri era regra na mesa do velho imperador romano Tibério, que fez da ilha um refúgio. Na defesa do vinho local o soberano acabava desancando o mediocre aceto de Sorrento. Mas era bebida rústica, dessas que não fazem feio com a massa numa simples tratoria. Gennaro Arcucci, médico lotado em Capri durante a breve Repubblica Partenopea (1799), foi o primeiro produtor comercial da ilha. Ele criou Le Lacrime di Tiberio, uma provocação laica ao Lacryma Christi, conta Luciano Pignataro, do site Il Portale. Nova onda só se deu em 1909, com a fundação da Cantina Isola di Capri, no centro da vila de Anacapri, hoje rebatizada de Vinicola Tiberio. Axel Munthe, médico sueco que morou em Anacapri entre 1896 e 1910, conheceu os agricultores desse pedaço de chão e deles traçou pungentes retratos no best-seller A História de San Michele. Pequenos vinhedos estão hoje plantados em não mais do que 200 hectares, 80% com cepas para vinhos brancos (Falanghina, Greco e Biancolella). A oficialiazação da Doc Capri, em 1977, estimulou os vitivinicultores locais. Munthe construiu sua casa em Anacapri, a 327 metros do nível do mar, no local onde existiu uma villa de Tibério. Mármores e achados arqueológicos (roba de Timberio, como diziam os nativos) foram incorporados ao projeto. A pérgula da Villa San Michele é tomada por parreiras, de onde é possível apreciar o mar azul e a abundante luz mediterrânea.


http://www.sanmichele.org/indexEN.html

6">http://www.vinocampania.it/Servizi/vinodelmese.asp?idItem>6

DC 8/6/2007

Paradoxo chinês

A China nem tem uma palavra específica para designar o vinho (chiew é usada tanto para bebidas destiladas como para fermentados, ensina o consultor canadense Hrayr Berberoglu), mas a progressão do hábito do vinho no país impressiona: o consumo crescerá 65,52% entre 2001 e 2010, seis vezes e meia o aumento global, segundo a Vinexpo 2006. O casal do projeto Vinos Sin Fronteras, que faz um périplo por 80 vinhedos em todo mundo (veja site), viu de perto as dificuldades dos produtores locais. Atropelados pela sempre presente necessidade de quantidade, contam-se nos dedos os vinicultores de olho na qualidade. A regra é misturar ao vinho mostos importados de segunda categoria e até água. Há ainda a questão cultural. "Beber Merlot com Coca-Cola pode revoltar um apreciador de vinhos do Ocidente, mas para um chinês doçura e teor alcoólico significam mais do que qualquer requinte de frutas", diz Berberoglu. Exceções existem e a bodega Dragon Seal, em Beijing, tem produzido vinhos autênticos com Syrah e Merlot. Os chineses começaram a descobrir o vinho nos moldes ocidentais nos anos 1980, sem deixar de lado o amor à cerveja e ao whisky. Já consomem 700 milhões de litros de vinho ao ano. No final do séc. XIX, um cônsul austríaco ajudou no cultivo da Welschriesling. Franceses apareceram com Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay. Multinacionais também chegaram a se instalar no país, mas hoje é o governo que trata de estimular a produção. A China já aparece entre os top 10 no ranking de produtores, com 1,6 milhão de litros por ano (A França é a maior produtora, com 4,6 milhões).

228">http://www.wines-info.com/en/item.aspx?col>228

http://www.vinossinfronteras.org/espagnol/diario.html

DC 1/6/2007

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Uma girafa no Vale do Rhône

A França toda parou, em 1827, para receber a estranha criatura, uma girafa enviada de presente ao rei Carlos X pelo vice-rei otomano do Egito, Muhammad Ali – caravana que cruzou importantes vinhedos, causou furor entre agricultores do Vale do Rhône, até terminar ditando moda em Paris, com moças penteadas à la giraffe. Os historiadores dizem que o mimo era para ver a França neutra na guerra dos turcos contra a Grécia, que lutava pela independência. O navio vindo da África aportou em Marselha em 1826. Passado o inverno, foram mais 550 milhas nas quatro longas patas, de maio a junho de 1827, até Paris. Era a primeira girafa em solo francês, depois de uma odisséia na África: do Sudão até Alexandria, cruzando o Nilo, depois o Mediterrâneo, até a Sicília e a França. Essa história é narrada com brilho em Zarafa (Walker and Company/NY, 1998), de Michael Allin. Numa das escalas, em Messina, a embarcação que transportava o bicho teve de ficar ancorada longe do porto, medida sanitária em época de epidemias. Só a cabeça da Zarafa ficava para fora e muitos a viam como um "camelopardo". Cheios de curiosidade, pequenos comerciantes levavam aos passageiros frutas, gulodices e vinhos da ilha. As moedas eram jogadas numa vasilha com água e vinagre. Que vinhos seriam esses? As cepas para tinto mais apreciadas ali são a Nero d'Avola, Sangiovese e Gaglioppo. Mas poderia ser vinho das ilhotas vulcânicas vizinhas, como o Malvasia di Lipari. Homens de Micenas introduziram a viticultura na área de Messina no século XVI a. C., prática desenvolvida pelos fenícios.


http://www.sicilyweb.com/english/articles/wine1.htm

http://www.arlea.fr/spip.php?article678

DC 25/5/2007

Baco aos pés do Vesúvio

Um afresco de Pompéia mostra o deus Baco "vestido" com um cacho de uvas, aos pés do Vesúvio – vulcão cujas lavas e pedras soterraram a cidade em 79 d.C. . As uvas da "vestimenta" ainda não foram identificadas com precisão. De Aminaea? Sabe-se que era cultivada por ali. Outra aposta: Pompeianum (a mesma Murgentina da Sicília, de onde fora importada). A Aminaea produzia vinho superadstringente "em razão dos níveis de enxofre no solo". Já com a Pompeianum elaborava-se um dos melhores vinhos da Campânia. Desde 1996, a tradicional Azienda Vitivinicola Mastroberardino integra um projeto agroarqueológico que prevê o cultivo de vinhedos perto das ruínas da Villa dei Misteri, com manejo inspirado na lida de dois mil anos. Exames de DNA em sementes "congeladas" em 79 d.C. levaram à busca das cepas mais próximas das antigas como Piedirosso e Sciascinoso . A cada escavação, novos detalhes sobre a cidade vêm à tona, dos banquetes aristocráticos ao trago nas tavernas, com vinho misturado à água do mar. Em Pompéia – a cidade viva , livro recém-lançado pela Editora Record, o historiador Ray Laurence e o dramaturgo Alex Butterworth contam que 60% das propriedades já investigadas em Pompéia estão relacionadas à produção de vinho. A grande prensa fossilizada na Villa dei Misteri é prova do vigor da atividade. Eles escrevem sobre os 25 anos que antecederam à erupção destruidora, com destaque para o terremoto de 62 d.C.. Muitas vítimas do Vesúvio desprezaram as pistas da natureza: peixes mortos por ácido sulfúrico no rio Sarno e os tristes vinhedos das encostas do Vesúvio, que definhavam por causa da inexplicável seca e dos gases que escapavam do solo.

http://www.mastroberardino.com/ita/index.asp

http://www.villadeimisteri.com/

DC 18/5/2007

A holística dos Mondavi

Os Mondavi, que foram os maiores produtores de vinhos californianos, abrem a propriedade no final deste mês para mais uma edição do festival de verão. Herbie Hancock, grande pianista de jazz, é um dos convidados. Mecenas, os Mondavi sempre investiram na construção do conhecimento sobre o universo dos vinhos. É famosa a conferência que reuniu em 1991, na Califórnia, historiadores, arqueólogos e produtores para a apresentação dos mais atualizados estudos sobre as origens da vitivinicultura. No Copia - The American Center for Wine, Food & the Arts, instalado no coração do Vale do Napa, vinhos, gastronomia, jardins, arte e música integram-se em lições de bem viver. O Copia (redução de cornucópia, o chifre que é símbolo da abundância), é um centro cultural a 80 quilômetros de San Francisco. O patriarca Robert Mondavi e sua mulher são os mentores do projeto, no qual aportaram US$ 20 milhões. O Copia oferece tanto cursos de enologia e gastronomia como sessões de degustação – uma já consagrada porta de entrada para a vinicultura da região. É também um arrojado museu sobre o beber e o comer na América, com uma impecável coleção de copos de vinho, datados do século XVI até os nossos dias.

http://www.copia.org/

http://www.robertmondavi.com/

DC 11/5/2007

O Poderoso Coppola II

Produzir vinhos e fazer filmes são duas grandes formas de arte, muito importantes no desenvolvimento da Califórnia. Não por acaso, a relação é feita pelo diretor Francis Ford Coppola, que usou o dinheiro arrecadado com O Poderoso Chefão II para comprar a vinícola Inglenook, em Rutherford, Vale do Napa, uma das primeiras regiões de Cabernet Sauvignon da Califórnia. Coppola procurava uma propriedade para lazer. Acabou encontrando vinhedos, que arrematou em 1975 por US$ 2,5 milhões, segundo a escritora Natalie MacLean, que acaba de fazer um levantamento sobre vinícolas de celebridades. Num primeiro take, o diretor rebatizou a propriedade: Niebaum-Coppola, homenagem ao capitão Gustave Niebaum (1842-1908), jovem filandês que, depois de vencer vendendo peles no Canadá, fundou em 1880 a Inglenook, numa Califórnia de 45 vinícolas (hoje são mais de 250, somente no Vale do Napa). Em 1995, Coppola adquiriu o Chateau Inglenook e vinhedos adjacentes e pôde recompor a antiga propriedade (hoje Rubicon). No Château, montou um museu para a história da vinícola e a de seus filmes. A escrivaninha de Vito Corleone é uma das relíquias. Os vinhos e o estar à mesa cumpriram seu papel na antológica trilogia, como na cena em que Vito (o jovem De Niro) volta à Sicília para a grande vingança, mas não deixa de visitar uma inebriante adega. Ou nas tomadas em que os sócios "do começo" fazem planos na Nova York dos anos 20, entre garrafas de vinho tinto e generosos pratos de massa.

http://www.rubiconestate.com/site.php

http://www.nataliemaclean.com/index.asp

DC 7/7/2006

A nova jornada de Natalie

O site e os artigos sobre vinhos da escritora e sommelère canadense Natalie MacLean já se tornaram cult no seu país. Bem-informada, apresenta em newsletters os lançamentos de reconhecidos produtores mundiais. Nunca esquece de estabelecer os inúmeros vínculos culturais do vinho e de valorizar a boa mesa de jantar como território de "tolerância e unidade". Revela um bom humor e um senso crítico inconfundíveis ao analisar comportamentos. Num de seus artigos na internet, descreve o "wine snob" como ave rara capaz de eriçar a "plumagem verbal" na presença de um Cabernet de boa origem. Relata ainda os hábitos da hilária subespécie Borus technotalkatus que, em intervalos regulares, emite sons como "fermentação maloláctica". Ou as manias daquela outra subespécie de esnobe que, ao degustar o vinho, percebe não só a região e a vinícola de origem, mas também "o que o viticultor e sua mulher estavam conversando no dia em que as uvas eram colhidas". As tiradas de Natalie são as de uma observadora perspicaz: "o que distingue o verdadeiro esnobe dos falastrões que se autodenominam connaisseurs é atitude. Estes provarão novos vinhos, de novas regiões; esnobes estão convencidos que somente um bom château pode fazer um bom vinho". Não é à toa, portanto, a expectativa em torno do primeiro livro de Natalie Red, White, and Drunk All Over: A Wine-Soaked Journey from Grape to Glass (Doubleday Canada), a ser lançado no próximo dia 29.

http://www.nataliemaclean.com

http://gremolata.com/natalie_maclean.htm

DC 18/8/2006

A despensa do Dragão

A kombi vermelha, a "casa rolante" do escritor argentino Julio Cortázar (1914-1984), era chamada de Fafner, nome do dragão que guardava o tesouro dos Nibelungos. "Obstinada predileção wagneriana", dizia Cortázar. Foi nesse "dragão" que ele e a mulher, Carol Dunlop, empreenderam uma viagem insólita pela auto-estrada que liga Paris a Marselha. Durante 30 dias, a partir de 23 de maio de 1982, marcaram ponto em dezenas de parkings ao longo da rodovia, numa espécie de jogo com a realidade das margens, documentado com poéticos detalhes em Os Autonautas da Cosmopista (Editora Brasiliense/1991). Para enfrentar a jornada, Fafner ganhou um estoque de alimentos. Os viajantes foram contidos nas guloseimas, mas uma das listas para a sobrevivência foi encabeçada com "whisky (à beça)". E vinho, também à beça. As refeições eram feitas quase sempre na kombi. Na apresentação do livro, Cortázar faz questão de revelar a emoção que sentiu ao receber a inesperada visita de amigos, munidos de garrafas de Fendant, uma variedade de uva muito antiga usada para vinhos brancos, ainda plantada na Alsácia. Os escritores relatam também o encontro de um "oásis", o restaurante Relais du Beaujolais, onde puderam relaxar ao gosto do vinho epônimo. Anotam ainda a "visita" de policiais, com os quais dividiram copos de Sauvanes e rodelas de salame. Afinal, de suspeitos, foram alçados a respeitáveis viajantes, graças à onipresente máquina de escrever.


152">http://www.speculum.art.br/module.php?a_id>152

322">http://www.twis.info/grape.php?ID>322

DC 4/5/2007

Um pedaço do Irã na Califórnia

Dezesseis colunas de pedra dourada sustentam touros estilizados e recebem os visitantes na vinícola Darioush, no Vale do Napa, na Califórnia. O proprietário é Khaledi Darioush, um iraniano que migrou para os Estados Unidos no final dos anos 70, após a revolução dos aiatolás. Prosperou na área de mercearias e fez de sua vinícola um pedaço do Irã, com arquitetura inspirada na Persépolis de Dario. Hoje faz vinhos varietais disputados, com uvas Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay, Viognier e, não à toa, Syrah. Nascido na região vinícola de Shiraz, Khaledi vem de uma família que produzia vinho por hobby. Criança, bebericava escondido dos barris, conta Najmieh Batmanglij em From Persia to Napa, Wine at Persian Table (Mage Publishers/2006), livro que mostra a importância do vinho na cultura persa, de tempos imemoriais até a realização do sonho de Darioush, em Silverado. Já nos EUA, Khaledi passou a colecionar vinhos franceses. No final dos anos 90, comprou sua área, replantou os vinhedos e ergueu sua Persépolis. As rochas travertinas vieram do Irã, antes de passarem por corte e tratamento na Turquia e na Itália. Réplicas de objetos arqueológicos decoram os salões de degustação. E, se o fake reina, os arquitetos se defendem: o mobiliário tem a assinatura de Mies van der Rohe.

http://www.darioush.com/

http://www.napavintners.com/index.asp

DC 27/4/2007

Papas, questões terrenas

Os papas de Avignon, que durante 70 anos, no século XIV, dirigiram a Igreja Católica não de Roma, mas a partir de uma região de vinhedos no sudeste da França, tiveram de administrar uma poderosa oposição à "intrusão religiosa nas questões terrenas", como anotou o historiador americano Marvin Perry. Debates e cismas religiosos de lado, em pelo menos um ponto a ingerência eclesiástica em assuntos temporais rendeu bons frutos: Châteauneuf-du-Pape é até hoje uma das apelações mais importantes do Vale do Rhône. Nomeado papa em 1305, o francês Clemente V, arcebispo de Bordeaux, transferiu em 1309 a sede do papado para Avignon. Apreciava vinhos da Borgonha, mas não deixou de aumentar a área plantada ao norte, em Châteauneuf. O sucessor João XXII colheu os frutos desses vinhedos de solo pedregoso, celebrou a bebida como "vin du pape" e construiu ali um castelo de verão, logo Châteauneuf-du-pape (ruínas do château, destruído em 1944, ainda podem ser vistas). O Châteauneuf-du-pape nunca foi vinho para amadores. Eric Asimov, crítico do New York Times, ressalta esse caráter, apontando para uma rusticidade intensa, resultado de blends dominados hoje pelas uvas Grenache, Mourvèdre e Syrah, apesar de a lei francesa permitir a combinação de até 13 varietais.

http://www.chateauneuf.com/english/index.html

http://www.terroirs-france.com/region/rhone_chateauneuf.htm

DC 20/4/2007

Oxigênio para vinícolas

Young Bloods é o nome de uma banda pop, mas é também o nome de batismo de um grupo de jovens vitivinicultores australianos de Rutherglen dispostos a chacoalhar as propriedades "herdadas" de suas famílias. Rutherglen é uma das mais antigas regiões vinícolas da Austrália. Desde o início do século XIX os agricultores tiram proveito dessa terra e muitas das vinícolas já têm à frente dos negócios membros da quinta ou sexta geração de produtores. Do Young Bloods of Rutherglen tomam parte Eliza Brown (All Saints Estate E St Leonard's), Susie Campbell (Campbells Winery), Damien Cofield ( Cofield Winery), Jen Pfeiffer (Pfeiffer's Winery) e Stephen Chambers (Chambers Rosewood). Na área de marketing, há visível sangue novo na série de festivais enogastronômicos e no Muscat Trail, circuito ciclístico por 10 vinícolas de Rutherglen. A região é conhecida pelos vinhos fortificados, especialmente o moscatel, os tintos "robustos" e os "modernos" brancos. Os adjetivos são dos produtores. O Rare Merchant Prince Muscat recebeu de Robert Park Jr., o maior crítico americano, 99 de pontuação (de 100), enquanto Isabella Rare Tokay, 98. Os Young Bloods de Rutherglen na verdade seguem os passos do Bordeaux Oxygène, grupo de viticultores franceses, formado em 2005, determinado a reinjetar paixão no mundo do vinho Bordeaux, com investimentos em marketing voltado a jovens consumidores.

http://www.campbellswines.com.au/

http://www.spittoon.biz/bordeaux_oxygene_some_recommen.html

DC 13/4/2007

Idéias em fermentação

A imagem de Tom Wark na abertura do seu blog Fermentation não é lá muito amistosa. É como se ele estivesse ali para alertar o internauta desavisado: aqui você não vai encontrar dicas de vinho para a festa de aniversário. "Não recomendamos a ninguém o uso do Fermentation como manual de treinamento para sommeliers", diz. Criador de estratégias de comunicação para a indústria do vinho, com 17 anos de experiência, Tom Wark mantém seu Fermentation na rede desde 2004, garimpando sem descanso as notícias desse universo. E sem medo de opinar. Um de seus bombardeios é dirigido ao mapa das áreas vinícolas dos Estados Unidos (American Viticultural Areas, AVAs), as "appellations" americanas desenhadas por burocratas de Washington. Uma "ferramenta de marketing" mais do que uma chancela precisa para o vinho de cada região, diz Tom. Para ele, as AVAs não foram bem definidas e nelas não se tem homogeneidade de solo e clima para que o consumidor fique bem informado sobre o caráter e a alma do vinho que está na garrafa. Entre 2000 e 2005, o número de vinícolas cresceu 70% nos Estados Unidos, passando de 2.904 para 4.929. Vinhos e uvas contribuem hoje com mais de US$ 162 bilhões para a economia americana. Em recente comentário, Tom faz a defesa de um novo sistema de distribuição dos vinhos nos EUA: uma rede "com tecnologia" capaz de integrar vinicultores e varejistas. Venda direta on-line é tudo que assusta os atacadistas.



http://fermentation.typepad.com/fermentation/

http://www.winepros.org/consumerism/ava.htm

DC 5/4/2007

Rações de Persépolis

A compreensão de que o Irã islâmico e atômico de Mahmud Ahmadinejad foi um dia a Pérsia de Ciro, Dário e Xerxes sempre enfrenta caminhos tortuosos. Uma aproximação possível se dá no quesito arrogância dos dignatários, exaltada em Os Persas, tragédia de Ésquilo escrita em 480 a.C., pouco tempo depois da derrota destes para os gregos de Temístocles, na Batalha de Salamina. Era uma Pérsia guerreira e expansionista (como se vê no alegórico filme 300, de Zack Snyder). Mas também capaz de garantir rações de vinho e poesia a seus súditos. Algumas plaquetas de argila encontradas em Persépolis – antiga capital cerimonial do império construída por Dário em 500 a.C. na região sudoeste do que é hoje o atual Irã – revelam como a distribuição do vinho era feita entre a população. Cada membro da família real recebia diariamente quase cinco litros, originários das montanhas onde mais tarde se ergueria a poética cidade de Shiraz. Em dia de festa, a ração podia ser bem maior. Em From Persia to Napa: Wine at the Persian Table (Mage Publishers, 2006), livro que associa a sofisticada culinária persa à sua tradição vitivinícola, Najmiieh Batmanglij revela que uma princesa certa vez recebeu um navio com 500 galões. Parte do salário de alguns funcionários públicos, membros da guarda e oficiais era pago com a bebida. Um trabalhador comum era contemplado com até 20 litros mensais. E quando uma bebê nascia, sua mãe recebia quase dez litros, se fosse menino. Para uma menina, a ração caía pela metade. Tudo uma questão de berço: há 7.600 anos, muito antes do esplendor de Xerxes, os homens que viveram na região do atual Irã sabiam o que eram as delícias do vinho.

http://www.iranian.com/Books/2006/August/Wine/index.html

http://taylorandfrancis.metapress.com/content/v10826kr2310w222/

DC 30/3/2007

O incendiário de Vallejo

Aquele armazém climatizado parecia o lugar mais seguro do mundo: um prédio de concreto e aço, onde antes funcionara um estaleiro de submarinos. Passou a ser cômodo para vinicultores, colecionadores e empresas que administram vinhos de terceiros guardar garrafas na Wines Central, em Vallejo, a 48 quilômetros de San Francisco. Isso até o grande incêndio que destruiu seu precioso estoque. Cerca de 6 milhões de garrafas, algumas raridades, foram perdidas. Um prejuízo de cerca de US$ 200 milhões. O alarme foi dado na tarde de 12 de outubro de 2005. Mais de 120 bombeiros e 12 aviões foram chamados para controlar o fogo, que consumia milhares de caixas e fazia explodir as garrafas guardadas ali por mais de 90 vinícolas, muitas pequenas, mas também algumas das principais casas californianas do Vale do Napa. Richard Ward, da Saintsbury, em Carneros, resumia a desolação dos produtores. No seu caso, a empresa perdia referência histórica, pois em Vallejo mantinha garrafas de todas as safras, desde a fundação, em 1979. Depois das brigadas, vieram os investigadores. Tudo levava à hipótese de um incêndio criminoso. Nesta terça-feira, 17 meses depois, agentes federais prenderam o empresário Mark Anderson, que sublocava o armazém para guardar valorizadas coleções de clientes seus. Ele é acusado de colocar fogo no depósito para clamuflar outro crime. A polícia descobriu que Anderson desviava e negociava grandes vinhos colocados sob sua guarda.

http://www.avenuevine.com/archives/000342.html

http://fermentation.typepad.com/fermentation/2005/11/exclusive_image.html

DC 23/3/2007

Ronald Searle, pronto pra beber

O octogenário cartunista inglês Ronald Searle vive numa pacata vila nas montanhas cortadas pelo Var, na França, perto de um grande número de vinhedos. Mas seus desenhos continuam fazendo barulho mundo afora, em primorosas e sucessivas edições. As charges do best-seller Illustrated Winespeak (Souvenir Press 2005), muitas criadas para divulgar a vinícola californiana Clos du Val, satirizam as "frases tortuosas" dos "poetas-degustadores". JáSomething in the Cellar brinca com as dificuldades para se abrir uma garrafa (uma frágil mulher conta com a ajuda de um trem!). Searle ilustra também as "cerimônias" do vinho em vários países. Não faltam dráculas da Transilvânia brindando a chegada da "suculenta" podridão nobre.

http://www.bpib.com/illustrat/searle.htm

DC 16/3/2007

O recreio dos mosqueteiros

Porthos, Aramis, Athos e d’Artagnan acabam de se safar de mais uma encrenca. E agora estão à mesa farta, com bons vinhos , numa inevitável algazarra. Os estalajadeiros de uma França em pé de guerra com a Inglaterra não podem se queixar de tédio quando os clientes são os mosqueteiros de monsieur de Tréville, que dão a vida pelo rei Luís XIII e nutrem certa rixa pelo cardeal Richelieu e seus asseclas. Os personagens de Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas, entre um duelo, uma amante e uma Milady, sempre se animam com garrafas de Borgonha, Bordeaux, Champagne e de revigorantes da Espanha. Athos é o perito: A vida é um rosário de miseriazinhas que o filósofo desfia dando risada. Sêde filósofos como eu, senhores, assentai-vos à mesa e bebamos; nada faz parecer o futuro mais cor-de-rosa do que olhar para ele através de um copo de Chambertain. (Capítulo XLVIII). A bebida mais sensível da trama, entretanto, é o vin d’Anjou, proeza do Vale do Loire. Dumas escalou o d’Anjou para título do seu capítulo XLII. Num encontro dos quatro amigos, guisados ainda quentes, d’Artagnan oferece desse vinho recém-chegado de Villeroi, que pensava ter sido enviado a ele pelos mosqueteiros. Que nada! O "delicioso" vin d'Anjou que Athos tanto prefere ("quando não há Champagne nem Chambertain"), na verdade era um presente de grego, que descobriu-se estar envenenado. Todos salvos pelo conselheiro Athos: "Não se bebem vinhos de procedência desconhecida".

http://www.lvo.com/GASTRONOMIE/VINS/VIGN/ANJO1F.HTML

http://www.anjou-tourisme.com/upload/doc/IeA_uk.pdf

DC 9/3/2007

Volta ao mundo em 80 vinhedos

Nicolas Beausset, negociante de vinhos na Espanha, e Géraldine Reinhold Von Essen, executiva de uma operadora de turismo francesa, estão neste momento na Ásia para conhecer os "vinhos da nova latitude", produzidos em áreas de Bangcoc, na Tailândia, a Beijing, na China. Trata-se da segunda etapa do projeto Vinos Sin Fronteras, iniciado em janeiro pela África do Sul. Os globe-trotters visitarão 80 vinhedos em um ano, cruzando 15 países, em 5 continentes. À redescoberta da diversidade vitivinícola do planeta liga-se um projeto humanitário. A dupla vai recolher apoio e doações para a ONG Acción Contra el Hambre, que desde 1979 atua nas regiões mais pobres do globo. Já amealharam cerca de 100 garrafas, que serão vendidas em prol da entidade. Na África do Sul, rastrearam vinhedos de Johannesburgo à Cidade do Cabo. Na vinícola Klein Constantia ganharam uma garrafa de 'Vin de Constance', o vinho doce de Moscatel que encantava o escritor Sthendal (1783-1841). Em Constantia, de clima mediterrâneo, o vigor das variedades brancas, como a Sauvignon Blanc e Semillon, impressionou os viajantes. Já em Stellenbosh, capital dos vinhos sul-africanos, degustaram "elegantes" Pinotage, híbrido "caseiro" da Pinot Noir com a Cinsault. Um diário com imagens das vinícolas visitadas pode ser visto no site do projeto. A Quoin Rock Winery, que se orgulha da sala de degustação em ambiente medieval, doou 12 garrafas, sendo 6 assemblage de uvas Sauvignon Blanc e Viogner.

http://www.vinossinfronteras.org/

http://www.accioncontraelhambre.org/

DC 2/3/2007

Wine clubs e seus cartões

Mais um cartão vem se somar à cascata dobrável de plásticos que faz a alegria (e compõe o clichê) de consumidores norte-americanos. Várias vinícolas, especialmente na Califórnia, têm emitido seus cartões próprios como forma de fidelizar clientes. Coisas do marketing com terroir da América! No já tradicional cartão da Rutherford Hill Winery, no Vale do Napa, onde os empreendedores da família Terlato têm produzido um Merlot estrelado, o galpão-símbolo da propriedade é orgulhosamente destacado. Pesquisa recente divulgada pelo site winesandvines.com com 350 vinícolas dos Estados Unidos mostra que os produtores, principalmente médios e pequenos, têm investido na venda direta de suas garrafas. Alguns deles conhecem seus 50 clientes mais fiéis pelo nome, graças à freqüência com que estes comparecem a eventos promovidos pelos efervescentes clubes do vinho. Hoje, o canal mais popular de vendas está nas salas de degustação que os vinicultores tratam de aprimorar e abrem a seus visitantes. Em seguida aparecem os "wine clubs", uma tendência em alta em todo o mundo. 37% das vinícolas pesquisadas pela Wines & Vines indicaram que os clubes são responsáveis por 11% a 50% das vendas diretas. Na Rutherford Hill, cerca de 3 mil sócios estão ligados a cada um de seus rótulos. Isso quer dizer que os membros desses clubes participam de promoções especiais e podem receber religiosamente em casa as garrafas do vinho preferido, nem bem a safra tenha começado a caminhar.

http://www.rutherfordhill.com/default.asp

http://wine.about.com/od/wineclubs/Wine_Clubs.htm

DC 23/2/2007

Memória de Cnossos

Vinicultores de Creta fazem vinhos tal um sherry cor de âmbar que os especialistas acreditam ser iguais àqueles produzidos na Idade Média. Garrafas que enriqueceram mercadores venezianos e saciaram nobres ingleses. Outros apostam na similaridade com os Malvasia guardados em jarras de terracota no palácio do rei Minos, em Cnossos. Uma realidade da Idade do Bronze que veio à tona graças às escavações do polêmico arqueólogo britânico Arthur Evans. Trata-se de um revival, para usar a expressão do jornalista americano Gerald Asher, que num tour pela ilha provou um fortificado (quase um "confit de uvas") de Sitia, uma área demarcada como Archanes, Dafnes e Peza, onde os vinhedos estão protegidos dos ventos quentes da África por uma barreira montanhosa. Das cepas particulares (Kotsifali, Mandilaria, Liatiko e Vilana) saem também brancos frutados e tintos encorpados. A tradição vinícola em Creta tem mais de 5.000 anos. A poderosa ilha cantada por Homero tem sua ligação com o vinho colorida pela mitologia. Nikos Kazantzakis, escritor da Grécia moderna, romanceou a rotina da civilização minoana no livro No Palácio do Rei Minos (Marco Zero, 1986). As taças cheias de vinho pontuavam os momentos de êxtase religioso. Num ambiente assim a princesa Ariadne, com seu novelo-guia, ajudou o príncipe Teseu de Atenas a encontrar a saída do labirinto que o arquiteto Dédalo construiu no subsolo de Cnossos. Isso depois da luta vitoriosa contra o minotauro. Dionísio, Deus do Vinho, desposou Ariadne durante viagem de barco da Ásia à Europa, na qual se deu a propagação da vitis vinifera.

http://www.greekwinemakers.com/czone/regions/crete.shtml

http://www.culture.gr/2/21/211/21123a/e211wa03.html

DC 16/2/2007

Entente Cordiale

O herdeiro do trono britânico cedeu uma de suas aquarelas, inspirada numa paisagem francesa de pinheiros e céu azul do Cabo de Antibes, para ilustrar o rótulo do Château Mouton Rothschild 2004, produzido em Pauillac, no Médoc, a noroeste de Bordeaux. A apresentação oficial do rótulo será dia 23, em Nova York, enquanto a Shotheby’s ultima os preparativos para um leilão inédito de grandes garrafas da adega da baronesa Philippine de Rothschild, hoje à frente dos negócios da casa. O convite ao príncipe Charles é simbólico e fecha informalmente as celebrações do centenário da Entente Cordiale, acordo entre ingleses e franceses, assinado em 1904, durante a I Guerra Mundial. Desde 1945, a cada safra, os rótulos desse vinho dão espaço a grandes artistas. Dali, Braque, Chagall, Kandinsky... Tapies e Miró emprestaram seus traços gestuais. Picasso está presente com uma bacante. A coleção, idealizada pelo inquieto barão de Rothschild, pode ser vista na internet. Ou em Nova York.

http://www.halter.net/mouton.html

http://www.bpdr.com/

DC 9/2/2007

Tokay operístico

O libretista italiano Lorenzo Da Ponte (1749-1838) escreveu as duas primeiras cenas de Don Giovanni, de Mozart, na companhia de uma garrafa de vinho Tokay, um saquinho de tabaco de Sevilha, chocolate, biscoitos e um sininho para chamar a jovem empregada da casa, de 16 anos, sua musa. Era 1787, Mozart precisava trabalhar numa ópera a ser encenada em Praga e chamou Da Ponte para ajudá-lo. Com vida de peripécias como as de seus personagens, amigo de Casanova, fugido de sua Venezia para Viena, Da Ponte escreveu Don Giovanni simultaneamente com outros dois libretos, para Martín i Soler (L’Arbore di Diana) e Salieri (Tarare). Tudo em dois meses. Viva as doçuras da musa e do Tokay! Em setembro daquele ano, Da Ponte e Mozart entravam em Praga para preparar a estréia da ópera, cuja partitura seria terminada às vésperas da apresentação, em 29 de outubro. Da Ponte descreveu seu ambiente de trabalho em Memórias, livro preparado décadas depois, já em Nova York. Tokay é uma das 22 regiões vinícolas da Hungria, no Nordeste do país, e seus vinhedos são reconhecidos como especiais desde 1770. O elixir que encantava a nobreza européia recebeu de Luís XIV o veredicto: "o vinho dos reis, o rei dos vinhos". Elaborado principalmente com uvas Furmint e Hárslevelü, o Tokay é fruto da podridão nobre, como o Sauternes. O microclima entra na ação com dois rios convergentes e o fog que recobre a área no outono e no inverno. Atacadas pela Botrytis, as uvas apodrecem e há uma especial concentração de açúcar, responsável por sua sofisticação. Até hoje, sob a "terra benedicta" do Tokay, quilométricas adegas guardam preciosidades húngaras.

http://www.wines.com/tokaj/tokaj.html

http://www.wines.com/tokaj/home.html

DC 2/2/2007

Brett do bem, Brett do mal

Numa das divertidas passagens do livro O connaisseur acidental (Editora Intrínseca, 2004), o escritor Lawrence Osborne descreve como foi apresentado à Brettanomyces, a famosa levedura de nome complicado que agita o mundo dos produtores de vinho. Em visita ao baixo Ródano, uma das regiões vinícolas mais importantes da França, Osborne foi bater no restaurante Le Verger des Papes, em área do Châteauneuf-du-Pape. Enoanalfabeto, depois de se atrapalhar todo com a carta local, Osborne pediu um Beaucastel, o mais caro da lista. Ao dividir a degustação com o garçom, foi alertado:" Não sente um gostinho de titica de galinha?". Espanto! A Brettanomyces, "doença" de vinho tinto, é responsável por aromas que vão dos medicinais band-aids, passando pelo cheiro de animal e couro molhados, suor de cavalo e ... galinheiro, sim. Por trás desse espetáculo de odores estão os fenóis e os ácidos gordurosos voláteis. Há enófilo que não tolera tanto "estábulo" na taça e faz campanha pela erradicação dos "defeitos" provocados pela Brettanomyces. Mas a levedura tem morada na maioria das vinícolas e quase sempre está presente no complexo ciclo microbiológico da fermentação. Cientistas e produtores discutem é em que medida a presença de brett pode ser tolerada ou pode destruir uma safra. O Beaucastel é reconhecido como um dos melhores vinhos do mundo justamente porque os níveis de brett lhe conferem.

http://www.wynboer.co.za/recentarticles/200602bretta.php3

http://www.makewine.com/makewine/brett.html

DC 26/1/2007

Civilização BYOB

A Associação Brasileira de Sommeliers (ABS) seção São Paulo traz no seu site uma lista de restaurantes que permitem que o comensal leve consigo o vinho que deseja beber. A relação cresce devagar. A prática civilizada, já popular na Austrália, Nova Zelândia e vários países europeus, ganha novos adeptos no Novo Mundo. No Canadá, virou assunto de governo. Em Ontario, os restaurantes que aderem ao BYOB (sigla em inglês para Bring Your Own Bottle ou Traga Sua Própria Garrafa) ganham até um selo de prestígio. Poder levar o próprio vinho ao restaurante "é o Nirvana para pessoas como eu que amam grandes vinhos e comida, mas não cozinham um nada", escreve a escritora canadense Natalie Maclean. Radical, Natalie, por exemplo, não dispensa um burger com Bordeaux. "Não é porque você está fazendo uma refeição casual que vai ter de tomar um vinho zurrapa", diz. A prática, na verdade, deixou de ser uma questão meramente financeira. Os vinhos de restaurantes são caros, sim, mas a sofisticação crescente do mundo do vinho trouxe outra variável para os enófilos: os desafios da enogastronomia, de harmonização de pratos e bebidas. A camaradagem BYOB tem, entretanto, regras universais. Só se leva ao salão vinhos que não constam da carta do restaurante visitado. E nada de cara feia para a chamada rolha, que é a taxa que algumas casas cobram pelo serviço. Oferecer uma taça da preciosidade ao chef é uma delicadeza de bom tom. Nos EUA, principalmente em Nova Yok, há chefs que, num movimento inverso, passaram a fazer desafios: preparam menus sofisticados à espera do melhor vinho da adega do cliente.

http://www.abs-sp.com.br/conteudo/page_cont_117.asp

http://www.drvino.com/byob.php

DC 19/1/2006

Golos essenciais

O mercado editorial português, que no ano passado comemorou a edição de número 200 da Revista de Vinhos, com tiragem de 25 mil exemplares, entra em 2007 com dois outros projetos da cena enogastronômica consolidados. A Wine Passion, em edição bilíngue, tem contribuído para a promoção dos vinhos, do enoturismo e do patrimônio de Portugal. Desde julho, quando foi lançada, cuida também dos ingredientes do bem-viver, "de tudo que com vinhos fica melhor", disse ao DC Maria Helena Duarte, diretora da revista. A Wine Passion deverá estar nas bancas brasileiras a partir de fevereiro, com reportagens que dão dimensão cultural aos dados mais práticos do mundo do vinho. Na última edição, o destaque foi para os vinhos do Alentejo, região que encerrou 2006 tendo o Brasil como principal mercado de exportação. "Nos dias de hoje, o apreciador exigente é aquele que sabe distinguir entre um vinho caro e um grande vinho", escreveu Luís Ramos Lopes, diretor da Revista de Vinhos. E aí entram as publicações especializadas, com sua equipa de degustadores. A blue Wine, também lançada no ano passado, traz no "assemblage" de especialistas Jancis Robinson, colunista do Finantial Times, que não dispensa os comentários sobre a fantástica variedade das castas nativas de Portugal. "Queremos produzir exemplares suficientemente bons para que os queira guardar com o mesmo carinho com que guarda seus vinhos de eleição", escreveu o editor da blue Wine Nuno Guedes Vaz Pires.

http://www.winepassion-magazine.com/

1">http://www.essenciadovinho.com/php/primeira.php?lingua>1

DC 12/1/2007

A letra V de Dumas

Vinho é um verbete bem encorpado no Grande Dicionário de Culinária, de Alexandre Dumas, que acaba de ser lançado pela editora Jorge Zahar. Dumas (1802-1870), um dos mais famosos escritores franceses do século XIX, justificou seu interesse: o vinho é a "parte intelectual da refeição". Autor de Os Três Mosqueteiros e O Conde de Monte Cristo, Dumas (o gourmand gordinho na caricatura de H. Mailly) fez de seu dicionário gastronômico um livro tão reconhecido quanto A Fisiologia do Gosto, de Brillat-Savarin. Decidiu-se pela obra depois de desilusões com o mundo literário. Colecionou informações em viagens pela Itália, Espanha e África. Copiou receitas de clássicos franceses e de menus de restaurantes. Em pequenos goles, pílulas de almanaque, o romancista narra a história cantada por poetas e escritores. Os vinhos de Bordeaux, escreve Dumas, demoraram mais de 80 anos para serem incorporados ao gosto da corte. Richelieu fazia de tudo para convencer Luís XV sobre as qualidades da bebida, mas Sua Majestade julgava um Château-Laffite apenas "passável". Dumas inclui no verbete uma interessante lista de vinhos em voga à época, emprestada de Ludovic Maurial (L'art de boire, connaître et acheter le vin et toutes les boissons, 1865). Antes disso, na letra A, há imperdíveis curiosidades sobre a ancestral arte das adegas.

http://www.online-literature.com/dumas/

http://gallica.bnf.fr/Catalogue/noticesInd/FRBNF30911895.htm

DC 5/1/2007

Tempo de festa de Babette

Candelabros acesos, começa a festa: Potage de Tortue, consomé de tartaruga, e Jerez . Ao provar o vinho encorpado e seco, o general estala a língua e decifra a preciosidade espanhola: "Amontillado!" É o início da rendição dos demais convidados, gente rude de uma vila perdida na gelada Dinamarca. Todos comprometidos contra os prazeres daquela mesa e o pecado da gula. A cada prato, a cada cena, entretanto, são tomados por uma sedução diferente e mais arrebatadora. O Blinis Demidof, panqueca com creme azedo e caviar, é acompanhado com Champagne Brut Veuve Clicquot, safra 1860. Depois, Cailles em Sarcophage à la Sauce Perigourdine, cordonas recheadas de foie gras e trufas acomodadas em vol-au-vent, merece um Clos Vougeot, 1845. O banquete cinematográfico prossegue com salada verde, queijos (Quental, Fourme d'Ambert, Bleu D'Auvergnes). E o nocaute vem com as sobremesas: Baba ao Rhum, frutas frescas e café, arrematado com Marc Fine Champagne. Poucos filmes celebram tão bem os valores transcendentes da gastronomia e dos vinhos quanto Festa de Babette (1987), de Gabriel Axel, adaptação de um conto de Isak Dinesen. Além de emblema da culinária francesa, o filme mostra os incomparáveis poderes de transformação da cozinha e todos os sentidos dela emanados, escreve Priscilla Parkhurst em Accounting for Taste: The Triumph of French Cuisine. Babette foge de Paris para a Dinamarca em 1871 e é acolhida por duas irmãs muito religiosas, que vivem uma rotina de austeridade. Premiada na loteria, Babette, ex-chef do Café Anglais, oferece o primoroso jantar, que amplia o horizonte da pequena aldeia. "A culinária nos exalta espiritualmente, humanizando-nos e predispondo-nos para um convívio de bondade e afeto recíproco", escreveu o filólogo e gourmand Antônio Houaiss (1915- 1999) sobre o espírito da Festa de Babette.

http://www.press.uchicago.edu/Misc/Chicago/243230.html

DC 29/12/2006

Bye-Bye, Bordeaux *

Para apreciadores de um bom vinho, tão devastadores quanto furacões e mares engolindo cidades são os estudos que mostram a ameaça real do aquecimento global para os vinhedos. Cientistas apostam no aumento médio das temperaturas globais entre 2 a 6° C, num futuro de 50 a 100 anos. Mas já há sinais de como o mapa vinícola poderá ser redesenhado. No início do mês, Vasco D’Avillez, presidente da VinoPortugal, associação que promove os vinhos portugueses, fez uma previsão dramática. Disse que, em 50 anos, a produção do Alentejo estará condenada. Citou o verão abrasador de 2006, que queimou boa parte da uva Trincadeira. Como D’Avillez, várias vozes têm se levantado para discutir os efeitos do "novo clima". Em março, cientistas e produtores reuniram-se em Barcelona naquele que foi o Primeiro Encontro Mundial sobre Aquecimento Global e Vinho, organizado pela Academia do Vinho da Espanha. Em 3 ou 4 décadas, indicam estudos, regiões de Bordeaux, da Mancha e do Sul de Portugal terão o perfil de seus vinhos alterados para pior. A tragédia anunciada de temperaturas mais altas indica que tintos perderão cor, ficarão mais alcoólicos e "pesados". A revista Discover de outubro trouxe reportagem (The Grapes of Warmth) que mostra as ameaças do superaquecimento não só aos vinhedos franceses como aos americanos, principalmente do Napa Valley, na Califórnia. Enquanto nessas regiões a temperatura máxima diurna mantém-se estável, a mínima noturna só cresce, provocando o amadurecimento mais rápido dos frutos e um desequilíbrio nos níveis de acidez e açúcar. É da Discover a linha pessimista que dá um bye-bye a Bordeaux. Do lado otimista, registra uma espécie de "renascimento" da indústria vinícola inglesa.

76.962">http://www.nicks.com.au/Index.aspx?link_id>76.962

http://www.thewineacademy.es/web/esp/

DC 22/12/2006