segunda-feira, 13 de maio de 2013

Feijoada com espumante nacional

Os caipirinhólogos e cervejólogos de plantão podem recolher as armas porque a questão é tão amistosa quanto animada, como geralmente devem ser as tratadas ao redor de uma boa mesa. Ninguém coloca em dúvida que a cerveja e a caipirinha são os mais tradicionais acompanhantes da brasileiríssima feijoada. Essas bebidas escoltam o salgado e untuoso prato desde "que o samba é assim". A acidez quebrando gorduras. Já as bolinhas... "têm o condão de limpá-las", dizia do alto de seu bigode o crítico Saul Galvão (1942-2009). O autor do referencial Tintos e Brancos não dispensava um "bom" Lambrusco com seus feijões, mas desde que "verdadeiro, feito com a uva do mesmo nome na Emilia-Romagna e não essas bebidas docinhas, baratas e medíocres que encontramos nos supermercados". O que especialistas estão propondo é o enriquecimento desse cardápio de harmonização com a inclusão dos espumantes nacionais, que reúnem essas mesmas qualidades. A Academia Brasileira de Gastronomia (ABG) deu início no último fim de semana a uma série de degustações com o objetivo de chancelar combinações de pratos típicos brasileiros com os vinhos produzidos aqui. Se na Europa a história das cozinhas sempre esteve intimamente ligada à dos vinhos nascidos em cada um dos territórios, no Brasil essa tradição não existiu. E simplesmente pela falta de bons vinhos locais. "A culinária brasileira tem 500 anos e nossos vinhos palatáveis, tido como finos, são produzidos há não mais de 40 anos", resume Edécio Armbruster, conselheiro da ABG, que comandou a primeira Prova de Harmonização de Espumantes com Feijoada, durante a 7ª edição do Paladar Cozinha do Brasil, no Grand Hyatt, em São Paulo. Já estaria então mais do que na hora de apertar o passo, sistematizando as possíveis conexões entre os pratos típicos e os vinhos brasileiros. "A ideia agora é testar e promover o maior número possível de degustações de harmonização", diz Enio Miranda, diretor secretário-geral da entidade. Na primeira prova da série, os espumantes, na média geral, se saíram muito bem com a feijoada. Degustados dez rótulos de primeira linha, a classificação oficial da ABG foi a seguinte: 1- Salton Evidence (11 pontos) 2- Cave Geisse Blanc de Noirs (10) 3- Kranz Brut Rosé (9 pontos) 4- Chandon Excellence Rosé (5) 5- Cave Geisse Natur (4 pontos) 5- Miolo Millesime Brut (4 pontos) 6- Cave Geisse Blanc de Blancs (3) 7- Valduga 130 Brut (0 ponto) 8- Valduga Gran Reserva Natur (-3) 9- Terranova Blanc de Blancs (-9) Enio Miranda ressalta que a pontuação apresentada não está relacionada à qualidade do espumante e, sim, à sua capacidade de acompanhar bem a feijoada, no caso, a oferecida no Hyatt. "É preciso sempre lembrar que não há verdades quando se fala em harmonização", enfatiza o enólogo Armbruster, respeitadomédico-pesquisador que há vários anos enriquece com método e inteligência o mundo das degustações. E se a feijoada em questão fosse a do Bolinha, as escolhas bem poderiam ser outras. Não é de hoje que a harmonização de feijoada com vinhos é testada. Se Saul Galvão defendia espumantes ou vinhos menos tânicos, Jorge Lucki, outro atento crítico, recomenda vinhos da uva Tannat, cepa originária do Sudoeste da França, que na sua terra natal dá a mão ao clássico Cassoulet. A ABG promete uma rodada de degustação para ver como se comportam os tintos brasileiros com a feijoada. E vice-versa.

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